quinta-feira, 29 de julho de 2010

Calafrio

Tranquilidade ao fim de um dia que não acaba. Passam as horas e passam também os pensamentos. A confusão se constrói em cólera e algo que pulsa por dentro ferve os meus olhos quentes que recitam a dor e a dúvida. Que faço com essa vontade decorada de não me deixar desligar de ti? Remexo tudo que é saudade buscando a solução. Quero nos meus braços o seu perfume, o seu espelho, quero te tomar como meu, todos os dias. Mas se fosse simples assim, dispensaria as lágrimas ao lembrar ele. Me engano, me escondo, te quero e te tenho nos meus sonhos todas as noites.

Não te conheço como meu amigo, mesmo que tenha assumido esse papel. Mas, inocente, de tudo aquilo que já vivemos esse cargo não te serve. O seu cargo é o meu desejo, é a minha fome de sentimento e até daquela saudade gostosa que sentíamos ao cair da noite. Muita das coisas não traduziria aqui, já que são puras e delicadas ao ponto de não redigi-las em palavras. Basta olhar em meus olhos e entenderia. Deve ser por isso que não me disponho em te encarar assim.

Os dias se tornam mais longos e as noites mais triste. Me contorço em uma estranha gelada bordada com verde e terra; quais eram mesmo os meus desejos? Me submeto ao declive das tardes que agora passo sozinha.

Não quero mais me entregar a ti e caminhar em um labirinto não direcionado, me tornar prisioneira livre daquilo que chamam de amor e até hoje procuro entender. Lembrar seu nome desperta um sorriso bom... Seria mais fácil viver só de lembranças, não é mesmo? Guardo teu caminho certo e teus dizeres sábios, guardo de coração aberto cada parcela desse ar que me tornou amante da vida.

"E sono strani amori che fanno crescere e sorridere fra le lacrime" (Renato Russo- Strani Amori)

Mayara Cristina Pereira 29/07/2010


domingo, 18 de julho de 2010

Deixe de conversa!

Nada faz sentido quando me remeto aos seus olhos. Aquela tarde na calçada eu fingi que não te via, porque se tocasse realmente suas pupilas levaria horas para me refazer. Não quero ser indelicada quando trato desse assunto, mas você é realmente algo difícil de traduzir. Isso não quer dizer que seja ruim, pelo contrário, te acho belo até de mais e talvez esse seja o motivo pelo qual hesito tanto. Olha, vamos com calma, ok? Que tal um café?

Preciso te conhecer melhor antes de... Bem, você sabe. E nem pense em me encarar dessa maneira, pois não vai funcionar, não mesmo. E nem me olhe confuso, sei que pareço maluca às vezes, mas se você estivesse na minha posição tenho certeza que também pareceria. Quando penso em te olhar sinto um suor frio nas mãos, meus olhos se aquecem em uma busca calculada, e acho que as formigas no meu corpo dispensam descrição.


Tem certeza que isso é café? Senti uma tontura agora. Mas enfim, onde estávamos? Bem, quando te conheci tive medo de desviar o olhar, parece até que você estava me segurando com as mãos sem nem ter tocado em mim. Foi difícil no início, mas vou te confessar que a segunda feira se tornou um vício. Mal esperava para trombar de novo no seu olhar, posso até não ter pinta de romântica, mas não parei de pensar nisso um minuto.


Contava as letras antes de dizer qualquer palavra, não queria estragar tudo e sei que estive perto de fazer isso. Sempre fui péssima para conversas, mas até que nessa me sai bem. “Um sorriso incomparável e um gesto tímido poderiam resolver tudo”, pensei comigo. Acho que não. “Peça um chopp!”. Isso sim pode resolver. Mas, mudando de assunto, pode me dizer qual é a cor deles?


O quê? Não estou brincando, não sei mesmo a cor dos seus olhos. Apesar de ter admirado cada cílio em suas particularidades, não me recordo da cor. Eram tão profundos, puros, concretos que não vi cor alguma. Tinha forma, brilho e suspense, mas cor? Deixe me ver, não me lembro de nada, nadinha. E então, verdes ou castanhos?


Talvez prefira escuros, mas até que com essa camiseta os verdes cairiam bem. Você não tem cara de quem tem olhos claros, acho que por causa do bigode ou do cabelo. Aposto no castanho. Diga-me se errei! Mas não precisa virar-se, acho cedo demais para nos olharmos assim tão de perto. Tenho medo de não resistir. Sei que é isso que pretende, mas não se agite ok?


Estava pensando e acho que agora que nos conhecemos melhor posso sentar na mesma mesa que você, o que acha? Espero não ter te deixado impaciente, é que gosto mesmo de ser cautelosa, entende? Não vejo nenhum mal. Mas permaneça de costas, não quero correr o risco de me embriagar novamente. Pode puxar um assunto se quiser, que tal futebol? Tenho visto que fala pouco, algum problema? Ei, espera, onde você vai?


Mayara Cristina, 18/julho/2010