sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ininteligível

Que a vida traga pro dia o que for conveniente, e que o conveniente traga para a vida, o dia. Como pássaros que gorjeiam a cidade, o esgoto que escorre quente pelo asfalto, a pobre senhora que entra e sai da igreja, as bolas batidas e rebatidas no pé do menino, as nuvens carregadas no fim da tarde.. todos sorriem, apesar do surto paulista, todos sorriem.


Noites

“Não sentia medo, nem coragem, apenas não conseguia ir em frente”. O rio estava bravo e as margens já não existiam, uma vez que foram tomadas pela água do rio ilimitado. O vento tomava força e me tonteava em um caminho sem rumo. Já não sabia que horas eram e nem para onde iria.

“Toda verdade incerta de seres criados na mentira”. Não tinha certeza do motivo para ter saído de casa, só me lembrava que estava triste. Uma tristeza parasita que escalava meu corpo e mantinham meus olhos lacrimejantes. Parecia que nada voltaria ao normal e eu sentia saudades do que nunca aconteceu, e não aconteceria.

“Emparedada, desprezada e cheia de dúvidas”. Mesmo sem motivo lutava contra o vento para seguir meu caminho. Ele me barrava, me empurrava e estando atordoada, quase caí. Por pouco não desisti de seguir, foi quando minhas lágrimas se confundiram aos primeiros pingos de chuva. Corri esquecida dos freios, como se fugisse de todo mal. Sem saber que era este que andava ao meu lado, o tempo todo.

“A procura árdua da cura para solidão”. A noite que caía chateada, sem manter nenhum sentimento de dó. Meus cabelos molhados cobriam os olhos numa tentativa de carinho e escorregavam frios como todo o resto. Ouvi um barulho e ao olhar para trás percebia que havia deixado cair minha razão. Já me dissimulava por entre troncos e pedra e achava que se corresse encontraria alguém.

“Já podia sentir medo, abandonara a coragem há tempos”. Bem como os caminhos quietos, me pus em um canto sozinha, abraçada a mim mesma. A esperança se colocou de costas e ria tímida sem me dar respostas. Pensava em todos e em tudo sem pensar em nada, apenas na espera tola de um encontro em breve. Almejava tanto agora buscar os problemas, dos quais quis fugir. E as pessoas más que tentei mudar. Livrai-me! Livra-me! Me leve de volta ao mundo avesso, às pessoas falsas e cheias de facas. Me leve de volta a mim!

Mayara Cristina Pereira 03/10/2009